É muito comum nutricionistas escutarem em consulta que o paciente fica em jejum por longos períodos do dia e que se alimenta somente das principais refeições: café da manhã, almoço e jantar ou em casos mais extremos somente o almoço. O jejum consiste em abstinência calórica que ocasiona uma rápida perda de peso. Vale frisar que grande parte desse peso perdido consiste principalmente de massa magra, glicogênio e água e que a gordura é utilizada para a formação de corpos cetônicos.
Nessa situação o organismo diminui o seu gasto energético basal para se defender contra essa abstinência calórica, ou seja, tenta poupar energia. O perigo desse jejum está a longo prazo, pois, o jejum prolongado leva a um aumento de corpos cetônicos (produtos resultantes da oxidação de ácidos graxos) que em excesso diminuem o ph sanguíneo causando uma acidose que pode provocar um coma e em casos extremos, a morte.
A maioria dos tecidos recebe energia provindas do fígado e músculos que utilizam o estoque de açúcar (glicogênio) para distribuir para o corpo. O cérebro utiliza os corpos cetônicos como fonte de energia, mas não consegue trabalhar com a mesma eficácia. Ocorrem também mudanças hormonais como a queda da insulina que já não é mais necessária visto que não há ingestão de glicose. Assim como uma maior concentração de ácidos graxos circulantes que podem ser depositados em artérias e órgãos ocasionando patologias como aterosclerose.
Quando o jejum é quebrado o organismo secreta uma quantidade muito alta desse hormônio causando uma hipoglicemia de rebote (queda brusca da glicose sanguínea). Vale lembrar que o organismo adapta-se à restrição extrema de calorias e muitas vezes não funciona como antes acarretando no ganho de peso (gordura), ou seja, esse é o princípio do famoso efeito sanfona.
Já se tem estudado muito sobre as alterações metabólicas oriundas do jejum, e uma delas pode ser a alteração do sono, uma vez que pesquisadores reconhecem que o jejum, em situação experimental, altera o padrão de sono-vigília de várias espécies de seres vivos. A privação de alimento, por exemplo, tem sido indicada quando se deseja aumentar a vigília e reduzir significativamente a fase do sono com o movimento rápido dos olhos (sono REM).
Vale a pena nos sujeitarmos a um jejum prolongado ou dietas restritas em calorias para objetivos estéticos? Ou nossa saúde é mais importante? Espero que a segunda opção seja sempre a escolhida!
Referências:
– BIESALSKI, H.K., GRIMM, P. Nutriçao: texto e atlas. Editora Artmed. Porto Alegre, 2008.
– HOEKS, J. et al. Prolonged fasting identifies skeletal muscle mitochondrial dysfunction as consequence rather than cause of human insulin resistance. Diabetes, vol.59, p. 2117-2125, 2010.
– MARZZOCO, A., TORRES, B.B. Bioquímica Básica. 2ed. Guanabara-Koogan. Rio de Janeiro, 1999.